ENSAIO SOBRE A CORAGEM DE SER IMPERFEITO

Coragem é quando o impulso vem antes da dúvida. E a confiança apaga qualquer resto de medo, preguiça ou desculpa. É quando a vontade sobe lisa pela espinha e explode em vida pedindo para ser vivida. Aí não existe será, talvez ou quem sabe. O que existe, já é. E o que é, estufa o peito e empurra o corpo inteiro pra única direção possível: o sim. Sim, não importa o que vai ser. Importa o que você vai fazer. Então, põe mais raiva, alegria, insanidade, que seja. Põe mais dor, mais calor, o que for. Põe você mesmo, e vai. Fecha essa matraca da mente e abre os ouvidos da intuição. Deixa o estômago gelar e segue logo o grito do amor. Porque, com coragem, é só o coração que age. Sem medo de ser imperfeito. Aliás, o dia em que esse mundo for perfeito, quero que alguém me avise de véspera. Pra que eu vá embora antes que essa tragédia aconteça. Coisa chata, previsível. Um tédio de pendurar na parede, com placa de “veja como sou bom”, e mantenha distância. Sorte a nossa, sabe o quê? É impossível ser perfeito aqui. A natureza do que somos é complexa demais pra virar equação. É profunda até o limite do não sei o que pode acontecer. E livre a ponto de poder se tornar qualquer coisa. Não cabemos em molduras, vazamos as margens e escorremos até a última gota do curso incerto da vida. Sabe qual o contrário de ser perfeito? Ser humano. E é a coisa mais linda que existe.